«Não há uma família cubana que não sofra com os efeitos do bloqueio» que os EUA mantêm apesar do restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países, denuncia o governo cubano.
«O bloqueio persiste, prejudica o povo. Carências, dificuldades, privação – isso faz parte da vida quotidiana dos cubanos», sintetizou o ministro dos Negócios Estrangeiros de Cuba em conferência de imprensa realizada a 10 de Setembro. Entre Abril de 2015 e Março de 2016 (quando o presidente norte-americano efectuou uma histórica visita ao país), os prejuízos da política «imoral e desumana» ultrapassam os 4,68 mil milhões de dólares, revelou na ocasião Bruno Rodríguez.
No total, em quase 60 anos de bloqueio, a perda acumulada por Cuba e pelo seu povo ascende a 126 mil milhões de dólares a preços correntes, aduziu o responsável pelas relações externas da ilha socialista que, no final do próximo mês de Outubro, voltará a apresentar à Assembleia Geral das Nações Unidas uma resolução pelo fim do bloqueio unilateral imposto pelos EUA.
Cuba apresenta na ONU a referida resolução desde 1992, obtendo consecutivas e crescentes manifestações de apoio por parte das nações com assento no hemiciclo. No ano passado, a votação favorável do texto foi esmagadora, tendo o mesmo recebido somente os votos contra dos EUA e de Israel.
Anacrónica
Na apresentação dos cálculos actualizados do bloqueio, Bruno Rodriguez insistiu que «não se pode ignorar que o efeito do bloqueio é a causa principal dos problemas da nossa economia e o obstáculo principal ao nosso desenvolvimento».
«Enquanto existir a proibição do comércio, quer dizer, que Cuba não pode nem exportar nem importar dos Estados Unidos, nem as empresas norte-americanas possam investir em Cuba» as medidas de alívio do bloqueio entretanto adoptadas «não são viáveis», acrescentou.
Cuba e os EUA restabeleceram relações diplomáticas em 2014 e desde então dialogam com o objectivo de normalizar completamente a relação entre ambos, algo que Cuba insiste só ser possível com o fim do bloqueio, do financiamento das acções de grupos terroristas anticubanos sediados nos EUA e com contingentes no interior de Cuba, e depois da devolução da base naval de Guantánamo, situada numa parcela de território cubano ocupado pelos EUA.
Ao longo de 21 meses, Havana e Washington conseguiram chegar a acordo sobre matérias de interesse comum. Da parte da administração Obama foram tomadas algumas medidas destinadas a distender a tensão dos dois lados do estreito da Florida. Contudo, estas «são limitadas no seu alcance e profundidade», defende Cuba, que através do titular da diplomacia voltou a criticar a Barack Obama por não «actuar de forma mais decidida e directa» para forçar o fim a uma política «anacrónica» antes de terminar o respectivo mandato na Casa Branca.
Basta
Aquando do restabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e os EUA, Barack Obama qualificou o bloqueio norte-americano a Cuba de «política ultrapassada e ineficaz». Em matéria de telecomunicações e viagens turísticas, é um facto que os EUA «desapertaram o garrote», porém, e tomando como exemplo esta última matéria, persiste a necessidade de obter autorização governamental para visitar Cuba.
Obama anunciou, igualmente, o fim da proibição de Cuba utilizar o dólar norte-americano nas transacções internacionais, assim como a possibilidade de Cuba usar sem restrições o sistema financeiro internacional. Tal não só não se materializou como, nos últimos meses, diversas entidades bancárias foram sujeitas a pesadas multas por transaccionarem com Cuba.
Está já mais do que na hora de os EUA terminarem definitivamente com o bloqueio, até porque, expressou Bruno Rodríguez, esse propósito colhe o apoio da esmagadora maioria dos norte-americanos e além destes.